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A ética do evangelho (Mateus 5:17)


Na ética do evangelho, Jesus amplia o conceito de pecado, considerando o espírito da lei interiorizando seus princípios, ou seja, considerando o pecado motivacional tanto quanto o pecado comportamental. E deixa claro que na dinâmica do pecado precisamos considerar seu nascedouro se quisermos ter vitória sobre o mesmo.


1. A ética do evangelho é pautada no amor que vence a ira por isso perdoa. V21-23.

Ainda que a pessoa não tenha coragem de tirar a outra de circulação através de um homicídio, o simples desejo de vê-la destruída, e de considerá-la desprezível, já a coloca sob o julgamento divino. A pessoa não o matou de fato, mas matou em seu coração, em seu universo “para mim essa pessoa morreu”. E a outra pessoa fica sem possibilidade de perdão, de reconciliação”. Não permita que a ira agasalhada, mate alguém no seu coração, e caso alguém já tenha morrido em seu coração, ou seja, já tenha sido riscado da sua vida, peça a Deus graça para que ele possa ressuscita-la em seu coração através do perdão.

Na ética do evangelho, nosso relacionamento vertical com Deus está vinculado com nosso relacionamento horizontal com as pessoas (Jo 1:6,7; 1Jo 1:6; 4:20-21). Neste sentido, não dá para afirmar: “eu não estou bem com meus irmãos, mas estou bem com Deus”. Como estão seus relacionamentos? Quando você vem prestar seu culto a sua memória tem registro de algum irmão que tem algo contra você, necessitando de reconciliação? Há pessoas em seu universo relacional que precisam ressuscitar no seu coração? Essa é a ética do evangelho, que excede a justiça dos escribas e fariseus.


2. A ética do evangelho considera a gravidade do adultério mental. V27,28.

Na ética do evangelho, tanto o adultério consumado quanto o olhar lascivo para outra pessoa que não seja seu cônjuge constitui pecado. Mais uma vez, Jesus desfocou o adultério como um ato consumado, e focou no nascedouro do adultério, ou seja, no olhar para uma mulher com uma intenção impura, que é o primeiro passo do adultério. O que Jesus está propondo então é o aborto dos olhares lascivos, das fantasias mentais, dos flertes pecaminosos, da cobiça, para quem quer ficar distante da possibilidade de adulterar (Pv 6:27; Ecl 10:8).

Com isso Jesus está ensinando que tratar o pecado no seu nascedouro é o primeiro passo para abortá-lo no processo (V29-30). Amputando os “instrumentos de Queda”, ou seja, se você conseguir administrar seu mundo interior, e as situações de perigo, você conseguirá preservar sua integridade moral, no que diz respeito ao pecado. Mais uma vez Jesus está como que a dizer: não pague pra ver, administre essas situações de perigo, não se exponha desnecessariamente ao pecado. Trate suas áreas de fraquezas.


3. A ética do evangelho é proveniente de um coração quebrantado. V31-32; Mt 19:7,8.

Há uma realidade espiritual no casamento que transcende a cultura, a lei, é que no casamento marido e mulher se tornam uma só carne, e essa realidade espiritual precisa ser acompanhada por um coração quebrantado, disposto a amar, a perdoar, a reconhecer as próprias fraquezas, a buscar ajuda quando necessário, a compreender o outro, a relevar as fraquezas do outro, a aceitar o outro como ele é. Ou seja, permanecemos casados porque tememos a Deus, porque amamos o cônjuge, porque temos um coração quebrantado, porque através de nossas atitudes demonstramos boa vontade para permanecermos casados. E isso, mais uma vez tem a ver com nossa interioridade, porque a batalha contra o divórcio começa no próprio coração. Isto porque quando as coisas acontecem do lado de fora, é porque já aconteceram do lado de dentro. Quem assassinou, antes odiou. Quem adulterou, quem roubou, antes cobiçou. Quem divorciou no papel, antes já divorciou no coração em razão da sua dureza de coração (Sl 139:23-24; 1Co 4:4).


4. Na ética do evangelho não se deve lançar mão de subterfúgios para encobrir a falta de credibilidade. (V33-36)

Na ética do evangelho nossa credibilidade precisa ser preservada. Nosso falar precisa ser comprometido com a verdade. Melhor que jurar falso e cumprir juramentos, é ter credibilidade suficiente para não precisar jurar por nada.

37Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar vem do maligno. MT 5

Essa fala do “sim, sim” “não, não” tem a ver com a sinceridade, integridade e assertividade no falar. Ela deixa de fora a dubiedade, a hipocrisia, a ironia dessa fala que passa do sim e do não, e que Jesus considera de procedência maligna.


5. A ética do evangelho manifesta-se em graça e misericórdia. (38-42)

Na ética do evangelho não há lugar para a justiça retributiva (olho por olho, dente por dente). Na verdade, o que Jesus está dizendo é que se o universo e a realidade social se estruturassem em razão de justiça retributiva, o final seria o sofrimento para todos e a extinção de todos. Por isso, nessa ética não se paga o mal com o mal, para não perpetuar a maldade. Ao contrário, paga-se o mal com o bem, se o inimigo tiver fome temos que dar a ele o que comer, porque toda a intenção é a de quebrar o ciclo de animosidade patrocinado pelo inimigo, com o propósito de trazer o inimigo para o lado do bem. Na ética do evangelho o que vale é amar o inimigo que antes se podia odiar, e orar pelos inimigos aos quais se podia revidar (V43-45; Rm 12:14,17-21)


6. Na ética do evangelho as relações precisam transcender a reciprocidade e avançar para a manifestação da graça e da misericórdia. (v46)

Jesus questiona o mérito dessa relação de reciprocidade e consequentemente de interesses: que mérito há em amar quem me ama, saudar quem saúda. Uma vez que eu amo para ser amado, faço o bem. O desafio do evangelho é o de amar o não amável (inimigo), e fazer o bem desinteressadamente aos necessitados.


Conclusão.

(1) Aos antigos foi dito que o pecado só tinha a ver com um fato consumado, mas Jesus disse que o pecado pode ser também motivacional, que aliás é no coração que ele é gestado.


(2) Aos antigos foi dito não matarás, mas Jesus disse que qualquer que se irar, desprezar, desconstruir o outro, está matando no coração.


(3) Aos antigos foi dito que não deveriam adulterar com um ato consumado, mas Jesus disse que qualquer que atentar para uma mulher com intenção impura já adulterou no coração.


(4) Aos antigos foi dito que bastava não jurar falso e cumprir os votos feitos a Deus, mas Jesus disse que se nossa palavra for “sim, sim e não, não”, não precisaremos emprestar a credibilidade de nada, nem de ninguém, porque teremos a nossa credibilidade afirmada.


(5) Aos antigos foi dito que poderiam revidar a todo mal feito contra eles, mas Jesus nos disse que não devemos revidar o mal, mas pagar o mal com o bem, se queremos desarmar o ciclo de animosidade patrocinado por Satanás.


(6) Aos antigos foi dito que deveriam amar o próximo e odiar o inimigo, mas Jesus nos disse que devemos amar o inimigo e orar pelos nossos perseguidores, para que nos pareçamos com nosso Pai. Essa é ética que excede a justiça dos escribas e fariseus.

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