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Seres iluminados e seres em trevas - Mt 6

Jesus afirma serem os olhos a luz do ser, e que se os olhos forem bons, todo o ser será iluminado, mas se forem maus, todo ser estará em trevas (Mt 6:22,23).

Jesus não se refere aos olhos físicos, mas aos olhos da mente, do pensamento, das emoções, dos sentimentos, do espírito. Ou seja, ele está se referindo ao nosso olhar para a vida e para o próximo, a forma como interpretamos a vida e o próximo, que reflete nossa interioridade, nossa condição emocional e espiritual.

Em primeiro lugar, vamos analisar o olhar para a vida.

O olhar é mau quando se alimenta de interpretações ruins, negativas, pessimistas, derrotistas, incrédulas da vida. Se seu olhar for assim, não existirá mundo bom para você.

Num certo sentido, a vida existe dentro de nós, e será boa ou ruim, desafiadora ou tediosa, significativa ou destituída de sentido, prazerosa ou dolorida, dependendo do meu olhar para ela. Por exemplo, um processo depressivo faz a pessoa mudar seu olhar para a vida, quando não se consegue mais enxergar bons prognósticos, bons horizontes, boas possibilidades, e perde-se o olhar de esperança e fé. Esse olhar está sinalizando que o interior não está bem, por isso tudo é interpretado por um olhar enfermo. Da mesma forma, quando o olhar para fora não é bom, não cogita do bem, não é lúcido, é sinal de que a interioridade não anda bem.

Enfim, o que Jesus está dizendo é que todas as coisas dependem do nosso olhar, do modo como interpretamos os fatos da vida. Qual tem sido o seu olhar para a vida? De derrotismo, pessimismo ou de construtividade e fé?

Em segundo lugar, vamos analisar o olhar para o irmão.

1. Jesus afirma que nosso olhar para o irmão não deve ser de julgamento (Mt 7:22a). Porque temos a tendência de julgar os outros? Por causa da nossa natureza caída, a “velha natureza” inclinada para o mal. Então, não julgue, porque o ato de julgar pode tirar de você a possibilidade de se auto perceber, de se autoconhecer, de se auto examinar, fazendo com que você trilhe o caminho do autoengano, da hipocrisia, da vida de mentira. Porque quando o foco do nosso olhar é para fora, deixamos de olhar para dentro e para cima.

2. Jesus afirma que na mesma medida que julgamos o irmão, também seremos julgados (Mt 7:V22b). O julgamento tem esse “efeito bumerangue”, como a lei da semeadura e colheita. Por isso é que com a medida com que eu meço pra lá, é exatamente a medida que será usada a mim, porque ela me é pertinente. O mesmo rigor, a mesma implacabilidade com o qual eu julgo os outros, serão critérios apropriados para mim. Quando em vez de me encarar, me enxergar, me perceber, não me examino a mim mesmo, como manda a palavra, eu sou julgado pelos próprios critérios do julgamento exterior que faço.

3. Jesus afirma que não devemos olhar para fora, se ainda não olhamos para dentro (Mt 7:3).

3.1 Quando nosso mundo interior não está minimamente resolvido, nossa tendência é projetá-lo no outro, num mecanismo de fuga.

Essa tendência em julgar temerariamente o outro, pode ser um mecanismo de fuga. Para fugir dos meus conflitos internos, dos meus problemas pessoais, eu fico me envolvendo com os conflitos externos a mim, bem como, com os problemas pessoais dos outros, no sentido de criticar, julgar, acusar, ficar vendo defeito. “Tudo o que nos irrita nos outros, pode nos levar a um conhecimento de nós mesmos” (Jung).

Logo, a tendência em julgar com juízo temerário destituído de graça e misericórdia, em superdimensionar as fraquezas do irmão, em desconstruí-lo para se auto afirmar, são sintomas que dão conta de que a interioridade não anda bem.

3.2 Antes de me ocupar com o problema do outro, preciso cuidar do problema que não está resolvido em mim. Percebam os irmãos que a proporção é mais ou menos essa, é um “cisquinho” no olho do outro e uma “trave” em mim. A trave é o telhado de vidro, o calcanhar de Aquiles, as pendências na vida. Enfim coisas que precisam ser resolvidas na interioridade. Então o que Jesus está ensinando? Resolva primeiro sua vida, administre primeiro seu conflito, cuide melhor da sua vida, para que você esteja bem para ajudar o outro.

4. Jesus afirma que só podemos ajudar o irmão a “tirar o cisco do olho dele” depois de resolvermos o problema da trave em nosso olho. (Mt 7:4,5)

4.1 Como um ser em treva, a pessoa acaba se tornando num instrumento de opressão na vida do irmão, porque a empatia dá lugar ao julgamento. Jesus afirma que se aquilo que deveria ser luz, se torna em treva, a pessoa se torna um “ser em trevas”, e o mundo espiritual discerne isso (Mt 7:23).

Quando o irmão comete um erro, e está fragilizada, precisando de uma palavra de ânimo, de conforto, de amor, de esperança, e ainda tem que ficar ouvindo as críticas, as acusações, os julgamentos dos irmãos, sendo alvo de um olhar antipático, cheio de juízo, crítico, ela fica mais oprimida ainda. Ninguém gosta de se abrir com pessoas que julgam a priori. Em que ambiente as pessoas costumam se abrir e confiar em seus conselheiros? Quando sabem que não serão julgadas, criticadas. Jesus não quer que você seja usado pelo inimigo, quando seu irmão está precisando da sua oração, da sua intercessão, da sua misericórdia, do seu encorajamento.

Quando você vir alguém que tem o dom, a habilidade de desconstruir o outro com seu julgamento, ele está apenas fazendo a confissão de quem ele é no íntimo, do que o habita.

4.2 Como um ser iluminado, a pessoa acaba se tornando um instrumento de bênção na vida do irmão, porque o julgamento dá lugar a empatia. Quando a pessoa olha para dentro, se enxerga, percebe o tamanho da “trave”, ela passa por um processo de transformação dolorido, e agora destituída de soberba, com um coração humilde, quebrantada, passa a ter um olhar limpo, amoroso, gracioso, misericordioso, empático, justo, com relação ao irmão, e assim o abençoa. Ela chega humildemente e quebrantada e diz: meu irmão eu sei como esse cisco incomoda, porque já lutei com um muito maior, o teu é até pequenininho, e é só porque tenho tirado tanta trave do meu olho, é que eu ganhei alguma experiência para te ajudar a tirar esse cisquinho do seu olho.

Conclusão:

Se queremos ser “seres iluminados”, para inclusive sermos bênção na vida daqueles que conosco convivem, precisamos ter um bom olhar, para a vida e para o irmão.

Se queremos ser alvos da misericórdia de Deus e dos irmãos, precisamos desenvolver um olhar misericordioso.

Precisamos melhorar a condição da nossa interioridade, tanto emocional quanto espiritualmente falando, para seja mudado também o nosso olhar para o mundo e para o irmão.

Com relação ao irmão, precisamos mudar o foco do nosso olhar, antes de olharmos para fora, precisamos olhar para dentro e para cima.

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