A felicidade segundo Deus
No senso comum, a felicidade tem a ver com algo que eu faço por mim, e está associada a coisas externas, ou seja, é circunstancial. Mas Jesus ensina nesse texto que a felicidade tem a ver com algo que eu faço para o outro, está associada a uma construção interna, ou seja, flui de dentro para fora, e é ultra-circunstancial, porque se pode ser feliz até em meio ao sofrimento.
Senão, vejamos:
1. Feliz é o humilde de espírito.
O humilde de espírito é aquele que se sabe destituído de qualquer mérito que possa atrair o favor de Deus, por isso sabe que, tudo que vem de Deus para ele, vem na perspectiva da graça. Um soberbo de espírito ora como o fariseu: “graças te dou porque não como esse miserável publicano. O pobre de espírito ora como o publicano: sê propício a mim pecador.
O humilde do espírito é um bem-aventurado porque, uma vez distanciado da soberba que precede a ruina, da altivez do espírito que precede a queda (Pv 16:18), uma vez que reconhece a sua limitação depende de Deus, aprende com Deus, porque é ensinável e está disposto a aprender sempre. Já a soberba nos infelicita porque nos faz caminhar nos limites do próprio braço, e impede o trabalhar de Deus em nossa vida, porque Deus resiste ao soberbo e dá graça aos humildes. O reino de Deus ficou muito distante dos soberbos fariseus, dos forte e poderosos, e muito perto dos humildes de espírito.
V.3 Bem aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.
2. Feliz é o que chora.
Por estarmos mais afeitos ao choro da auto piedade, da autocomiseração, da auto vitimização, da manipulação, motivados pela vida autocentrada e egoísta, estamos perdendo a nossa capacidade de chorar, especialmente em solidariedade à dor dos outros, quando somos exortados na Palavra a chorar com os que choram. Assim como Jesus chorou em solidariedade a Marta e Maria por ocasião da morte de seu amigo Lázaro. E quem aprende a chorar de modo amigo, sincero, solidário, condoído, com espírito de intercessão, anda com a alma em permanente estado de consolação. Creio que em sua família, aqui em nossa comunidade, em nossa cidade, em nosso país e no mundo, há pessoas que precisam do seu choro de solidariedade.
Mas precisamos também chorar pelo nosso pecado e pelo pecado que grassa no mundo. Neste sentido o Lucas e Tiago nos exortam a transformar o riso do "autoengano" em pranto.
Lucas diz: Ai de vós, os que agora rides, pela insensibilidade ao pecado, porque vos lamentareis e chorareis, pelas consequências do pecado encoberto.
Tiago diz: Senti as vossas misérias, e lamentai, e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo em tristeza.
Assim como fez Davi, com relação ao seu pecado, registrado no Salmo 32 e 51. BA aquele cuja a transgressão é perdoada, a quem o Senhor não imputa maldade, e em cujo espírito não há engano.
V.4 Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.
3. Feliz é o manso.
O sentido mais próximo da palavra mansidão, significa abrir mão dos próprios direitos em prol de uma causa maior. Por exemplo, Abraão abriu mão da escolha da melhor terra em favor do seu sobrinho, Ló. Davi, ungido rei, respondeu com mansidão às perseguições de Saul. Moisés abriu mão da corte egípcia para liderar com mansidão o povo de Deus, e foi considerado o homem mais manso da terra. Jesus abriu mão da glória em prol da salvação da humanidade, e disse: aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para as vossas almas.
Os mansos são bem-aventurados porque sabem abrir mão dos próprios direitos em prol da integridade da família, da comunidade, do Reino de Deus. E por isso, herdarão a terra. Paradoxalmente andarão pela terra como herdeiros de tudo, porque não se sentem donos de nada.